Sim, ela é uma cantora baiana. Não, ela não canta axé music. Marcia Castro, de 33 anos, chega ao seu segundo álbum, De pés no chão
(Natura/Deck, R$ 24,90), dando de ombros para quem diz que a música da
Bahia (ou feita por baianos) tem que seguir formas e conceitos para
fazer sucesso. “A indústria do axé é muito cruel com seus artistas. Não
possibilita que eles façam nada fora disso”, diz Marcia. O caminho, fora
dessa via, pode ser mais longo, sem a grana das grandes gravadoras, mas
os resultados aparecem. E ela não fala isso com o intuito de
menosprezar ninguém. Simplesmente não é a dela. “O axé nunca me pegou”,
diz.
Marcia começou a cantar em barezinhos do Pelourinho, em Salvador, aos
16 anos de idade, embora, desde pequena, já cantarolasse pela casa. Seu
primeiro ‘padrinho’ – e ela já encontrou
alguns outros ao longo desses anos – foi o compositor Wilson Aragão,
parceiro de Raul Seixas na canção "Capim guiné". Depois de cinco anos,
cansada de ser "a cantora de barzinhos", foi atrás de criar um trabalho
autoral.
Essa busca teve como resultado o CD Pecadinho, produção
independente lançada em 2007 na Bahia e, em 2008, em São Paulo. A faixa
“Frevo”, de Tom Zé e Tizeu Abreu, ganhou vídeo clipe com a participação
de Tom Zé, outro famoso que a abençoou. “Ele me ligou dizendo que havia
adorado minha gravação. Eu tomei um susto”, diz Marcia. O disco rendeu à
artista uma indicação ao Prêmio Tim 2008 de melhor cantora pop/rock e
shows por países como Suíça, Alemanha e Israel.
E foi lá fora, na Itália, que a cantora recebeu outra ‘bênção’, desta
vez de Mercedes Sosa (1935-2009). A lendária cantora e compositora
argentina viu Marcia em um dos seus ensaios e a convidou para uma
participação em seu show. Mercedes sugeriu um dueto em "Insensatez",
composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. E assim foi feito. Não em
uma única apresentação, mas em onze. “Ela é uma das artistas mais
intensas e generosas que conheci. A voz dela brotava da terra”, diz.
Marcia conta que o convite de Mercedes já valeu para o show na noite em
que se conheceram. Preocupada com que roupa usaria, Marcia recebeu um
outro carinho da argentina, que lhe emprestou seu xale para que ela
usasse por cima da roupa que vestia.
Todas essas experiências, mais a sua mudança para São Paulo – ela foi
para ficar alguns meses e já está há quatro anos – refletiram em seu
novo trabalho, De pés no chão, um álbum pop, com som
contemporâneo, que chega às lojas no dia 22 de março. “A mudança para
São Paulo, o contato com músicos e compositores daqui, maturou meu
processo de criação”, diz Marcia. A faixa-título é da sugestiva canção
homônima lançada por Rita Lee em 1974. Para a cantora, o versos Sim, eu sou um deles / E gosto muito,muito de sê-lo/ Porque faço coleção /De lacinhos cor-de-rosa/E também de sapatão soam como “deixa minha vida em paz”.
O temperinho da Bahia, que Marcia faz questão de preservar, foi dado pelo arranjador baiano Letieres Leite que fez os arranjos de sopros em “Preta Pretinha”, sucesso de Moraes Moreira que, por incrível que isso possa parecer, nunca havia sido regravada. Na versão de Marcia, a música ganhou introdução com samba de roda e citação de “Gererê”, do grupo Gerasamba.
O temperinho da Bahia, que Marcia faz questão de preservar, foi dado pelo arranjador baiano Letieres Leite que fez os arranjos de sopros em “Preta Pretinha”, sucesso de Moraes Moreira que, por incrível que isso possa parecer, nunca havia sido regravada. Na versão de Marcia, a música ganhou introdução com samba de roda e citação de “Gererê”, do grupo Gerasamba.
Marcia ainda garimpou outras raridades dos anos 60 e 70, entre elas
“Crazy pop rock”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, “Você gosta”, de Tom
Zé, “29 beijos”(do repertório dos Novos baianos), "Pois é, seu Zé", de
Gonzaguinha, e o obscuro samba de Cartola chamado “Catedral do Inferno”.
Ainda há canções mais contemporâneas como uma releitura de "História de
Fogo", de Otto.
O show de lançamento do CD acontece no dia 16 de março, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Com direção do ator Gero Camilo (o Sem Chance do filme Carandiru), a apresentação vai reunir músicas dos dois CDs de Marcia e algumas outras “surpresinhas” que ela faz questão de manter em segredo. “Eu me divirto muito no palco”, diz. No CD também. Basta ouvi-lo.
O show de lançamento do CD acontece no dia 16 de março, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Com direção do ator Gero Camilo (o Sem Chance do filme Carandiru), a apresentação vai reunir músicas dos dois CDs de Marcia e algumas outras “surpresinhas” que ela faz questão de manter em segredo. “Eu me divirto muito no palco”, diz. No CD também. Basta ouvi-lo.
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