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domingo, 25 de março de 2012

Marcia Castro mostra que a Bahia pode dar muito mais que axé music

Sim, ela é uma cantora baiana. Não, ela não canta axé music. Marcia Castro, de 33 anos, chega ao seu segundo álbum, De pés no chão (Natura/Deck, R$ 24,90), dando de ombros para quem diz que a música da Bahia (ou feita por baianos) tem que seguir formas e conceitos para fazer sucesso. “A indústria do axé é muito cruel com seus artistas. Não possibilita que eles façam nada fora disso”, diz Marcia. O caminho, fora dessa via, pode ser mais longo, sem a grana das grandes gravadoras, mas os resultados aparecem. E ela não fala isso com o intuito de menosprezar ninguém. Simplesmente não é a dela. “O axé nunca me pegou”, diz.
Marcia começou a cantar em barezinhos do Pelourinho, em Salvador, aos 16 anos de idade, embora, desde pequena, já cantarolasse pela casa. Seu primeiro ‘padrinho’ – e ela já encontrou alguns outros ao longo desses anos – foi o compositor Wilson Aragão, parceiro de Raul Seixas na canção "Capim guiné". Depois de cinco anos, cansada de ser "a cantora de barzinhos", foi atrás de criar um trabalho autoral.
Essa busca teve como resultado o CD Pecadinho, produção independente lançada em 2007 na Bahia e, em 2008, em São Paulo. A faixa “Frevo”, de Tom Zé e Tizeu Abreu, ganhou vídeo clipe com a participação de Tom Zé, outro famoso que a abençoou. “Ele me ligou dizendo que havia adorado minha gravação. Eu tomei um susto”, diz Marcia. O disco rendeu à artista uma indicação ao Prêmio Tim 2008 de melhor cantora pop/rock e shows por países como Suíça, Alemanha e Israel.
E foi lá fora, na Itália, que a cantora recebeu outra ‘bênção’, desta vez de Mercedes Sosa (1935-2009). A lendária cantora e compositora argentina viu Marcia em um dos seus ensaios e a convidou para uma participação em seu show. Mercedes sugeriu um dueto em "Insensatez", composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. E assim foi feito. Não em uma única apresentação, mas em onze. “Ela é uma das artistas mais intensas e generosas que conheci. A voz dela brotava da terra”, diz. Marcia conta que o convite de Mercedes já valeu para o show na noite em que se conheceram. Preocupada com que roupa usaria, Marcia recebeu um outro carinho da argentina, que lhe emprestou seu xale para que ela usasse por cima da roupa que vestia.
Todas essas experiências, mais a sua mudança para São Paulo – ela foi para ficar alguns meses e já está há quatro anos – refletiram em seu novo trabalho, De pés no chão, um álbum pop, com som contemporâneo, que chega às lojas no dia 22 de março. “A mudança para São Paulo, o contato com músicos e compositores daqui, maturou meu processo de criação”, diz Marcia. A faixa-título é da sugestiva canção homônima lançada por Rita Lee em 1974. Para a cantora, o versos Sim, eu sou um deles / E gosto muito,muito de sê-lo/ Porque faço coleção /De lacinhos cor-de-rosa/E também de sapatão soam como “deixa minha vida em paz”.

O temperinho da Bahia, que Marcia faz questão de preservar, foi dado pelo arranjador baiano Letieres Leite que fez os arranjos de sopros em “Preta Pretinha”, sucesso de Moraes Moreira que, por incrível que isso possa parecer, nunca havia sido regravada. Na versão de Marcia, a música ganhou introdução com samba de roda e citação de “Gererê”, do grupo Gerasamba.
Marcia ainda garimpou outras raridades dos anos 60 e 70, entre elas “Crazy pop rock”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, “Você gosta”, de Tom Zé, “29 beijos”(do repertório dos Novos baianos), "Pois é, seu Zé", de Gonzaguinha, e o obscuro samba de Cartola chamado “Catedral do Inferno”. Ainda há canções mais contemporâneas como uma releitura de "História de Fogo", de Otto.

O show de lançamento do CD acontece no dia 16 de março, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Com direção do ator Gero Camilo (o Sem Chance do filme Carandiru), a apresentação vai reunir músicas dos dois CDs de Marcia e algumas outras “surpresinhas” que ela faz questão de manter em segredo. “Eu me divirto muito no palco”, diz. No CD também. Basta ouvi-lo.

revistaepoca.globo.com

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