Crítica de Mariana Zylberkan sobre a novela "A vida da gente". Filosofia e reflexão marcam o fim de 'A Vida da Gente'
Lícia Manzo inova ao mesclar dramas com diálogos e
monólogos apoiados em análise psicológicas dos personagens, e estreia
com o pé direito como dramaturga, substituindo com elogios o sucesso
‘Cordel Encantado’
Muito mais do que o desfecho para o complicado triângulo amoroso entre
os personagens Rodrigo (Rafael Cardoso), Manu (Marjorie Estiano) e Ana
(Fernanda Vasconcellos), o último capítulo de A Vida da Gente foi uma
reflexão filosófica e até psicanalítica sobre a passagem do tempo, que
conduz a vida a desfechos imprevisíveis. Com um quê de Manoel Carlos,
Licia Manzo fechou sua estreia como autora na Globo com uma novela
realista, inteligente e delicada, além de capaz de manter relativamente
aquecido o horário, que vinha em alta com o sucesso de Cordel Encantado -- se não no Ibope, onde não brilhou, nas discussões que movimentou fora das telas, onde angariou elogios.
Licia optou por unir Manu e Rodrigo em vez de colocá-lo ao lado de Ana, seu primeiro amor,
para fazer o público refletir sobre a impermanência da vida. A menção à
filosofia ficou a cargo do professor Lourenço (Leonardo Medeiros), que
citou o filósofo Heráclito e o escritor Guimarães Rosa numa aula sobre o
fluxo eterno das coisas.
Assim como ao longo de toda a novela, bons diálogos e monólogos foram
os recursos usados para abrilhantar momentos decisivos da trama. O
esperado desfecho do triângulo amoroso foi contado ao público sem o uso
de uma cena batida e piegas de abraços, beijos e lágrimas. Rodrigo e Ana
evidenciaram o fim do romance em cenas separadas, em que cada um
escreve um e-mail ao outro. No texto, os dois refletem sobre a passagem
do tempo e sobre como o amor juvenil do passado perdeu espaço para a
nova postura diante da vida adulta. “Quando esperava o fim da operação
de Julia (Jesuela Moro), pensei que, se acontecesse alguma coisa com ela
ou com a Manu (que doou parte do fígado para salvar a sobrinha), eu
morreria”, disse Rodrigo numa sutil sugestão de que preferiu ficar com a
irmã de Ana.
A cena final juntou Julia, Ana, Lúcio, Rodrigo e Manu num passeio
bucólico. A autora mostrou sem medo na TV as diversas configurações
possíveis das famílias modernas, em que uma criança pode chamar duas
mulheres de mãe e também dois homens de pais.
Lícia acertou em se propor a inovar a velha técnica dramatúrgica do
triângulo amoroso. Além disso, relações familiares difíceis e
conturbadas, principalmente entre pais e filhos, foram exploradas ao
longo de toda a novela, o que ajudou a moldar essa proposta reflexiva da
trama.
Outros desfechos – As infernais Eva (Ana Beatriz Nogueira) e Vitória
(Gisele Fróes) foram desprezadas até pela autora no último capítulo. Eva
protagonizou mais uma cena de bullying contra Manu, em que foi
sumariamente ignorada pela a própria mãe, Iná (Nicette Bruno) e pela
filha preferida, Ana (Fernanda Vasconcellos).
Vitória teve que engolir em seco o sucesso da ex-aprendiz Cecília
(Polliana Aleixo), estampado nos outdoors da cidade. Ela se recusou a
treinar a tenista depois de descobrir os trambiques do pai da menina
(Francisco Cuoco).
As solteiras Nanda (Maria Eduarda) e Dora (Malu Galli) se saíram bem
após encontrar pares às escuras. Nanda foi “vítima” da armação de
Francisco (Victor Navega Motta) e jantou com um vizinho galanteador.
Celina (Leona Cavalli) armou um encontro entre um primo e Dora (Malu
Galli) em um bar.
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