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sábado, 6 de abril de 2013

Daniela Mercury transforma sua condição amorosa em bandeira política

A cantora Daniela Mercury viajou para a Europa em 10 de março. Como embaixadora do Unicef, braço das Nações Unidas que zela pelos direitos das crianças, participou dos preparativos para um encontro de embaixadores brasileiros e suecos, a ocorrer no Brasil neste ano. Com dois shows marcados em Portugal no início de abril, ficou por lá e esperou que a namorada, Malu Verçosa, fosse a seu encontro. Em Lisboa, as duas acompanharam a repercussão da entrevista da cantora Joelma a ÉPOCA. A vocalista da banda Calypso dissera ser contra o casamento gay e elogiara tentativas de “curar” a homossexualidade. Daniela e Malu também acompanharam o desenrolar das controvérsias sobre o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara – que, com suas declarações polêmicas sobre negros e gays, se tornou o inimigo número um das minorias organizadas no Brasil. 
Foi nesse contexto que Daniela e Malu, que começaram a namorar pouco depois do Carnaval, resolveram mandar ao Brasil um recado em forma de imagens pela rede social Instagram. Quatro fotos simpáticas dos rostos bem próximos e sorridentes, das mãos com alianças e um textinho singelo de Daniela – “Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração para cantar” – tornaram-se um manifesto poderoso sobre direitos iguais e o direito à diferença. Não houve outro assunto nas redes sociais na quarta-feira, 3 de abril. O nome da artista esteve nos tópicos mais comentados do Twitter. No Google, em poucas horas havia meio milhão de referências sobre o tema. O casal gostou da reação do público. “O apoio dos brasileiros mostra que somos um povo avançado e civilizado. E mais uma vez os brasileiros mostraram que Feliciano não nos representa”, afirmou a cantora, em entrevista a ÉPOCA.

Na verdade, Feliciano representa, legitimamente, os 211 mil eleitores que nele votaram. Trata-se de uma parte da população que questiona transformações nos costumes, como o direito de duas pessoas do mesmo sexo casar, ter filhos (adotados ou biológicos) e desfrutar os mesmos benefícios financeiros mútuos que os casais heterossexuais. O debate entre liberais e conservadores se manifesta em várias partes do mundo, incluindo o Brasil e osEstados Unidos. Lá, esse debate ferve nas instâncias formais da democracia: os juízes da Suprema Corte debatem se os Estados têm autonomia para discriminar uniões gays de uniões heterossexuais. Até agora, 25 Estados se adiantaram – 17 a favor da igualdade, oito contra. No Brasil, o assunto ganhou relevância por causa da exposição do deputado Feliciano. 
“A intenção era comunicar nosso casamento, mas coincidiu com o momento que o Brasil vem passando”, diz Malu, mulher de Daniela. “É muito bom que algo pessoal de alguém importante como Daniela sirva para uma luta em que ela acredita e que defende.” Em momentos assim, o ato individual, feito em público, torna-se político. Ao declarar seu amor para todos que quisessem saber, Daniela fez política.
Entenda-se “política” não como a prática do conchavo em corredores palacianos, e sim no sentido mais puro, primitivo e belo da palavra – o do cidadão que tenta influenciar seus iguais e a coletividade em que vive, pelo poder de seu exemplo e de suas ideias. Uma forma especialmente difícil de fazer política é assumir em público uma orientação sexual e afetiva que difere da maioria. Tão difícil que, no Brasil, são raríssimas as personalidades públicas homosse­xuais que declaram isso em público. Nos Estados Unidos e na Ingalterra, a prática do “outing” – declarar-se gay com propósitos políticos – ajudou a influenciar a opinião pública favoravelmente às causas homossexuais (leia os exemplos ao lado). No Brasil, tal assunto em geral é considerado de foro íntimo. As poucas celebridades que se assumiram gays em público nunca fizeram disso uma bandeira. Nesse sentido, o ato de Daniela Mercury é inovador. Estrela da música pop nacional, ela é provavelmente a primeira celebridade de seu tamanho a assumir-se gay com propósitos políticos.
Continue lendo esta reportagem em ÉPOCA que está nas bancas e confira a entrevista com Daniela Mercury sobre a repercussão do anúncio do seu relacionamento homoafetivo
Fonte: Revista Época

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